Em círculo.
Criar uma cartografia de iniciativas de mulheres que, de alguma maneira, fortaleça outras mulheres, inaugura em mim o costurar entre uma cartografia útil e uma cartografia imaginativa. Pois deslocar para os espaços destrava internamente um lugar de resistência em mover-se, resistência em fazer um trânsito desconhecido. 
A cartografia útil, então, é necessária para chegar até essas mulheres que habitam lugares tão distintos da cidade. Contudo, cada ponto indexado no mapa marca também a elaboração de caminhos sensíveis. Marca-se nele a existência de um fazer, e a constatação de que aquela intimidade não permeia os interesses de uma cidade continuamente sinalizada por bancos, shoppings, hospitais…
Determinar no mapa a existência de modos de fazer que beneficiam as mulheres é, de certo modo, reconstruir essa cidade ou, pelo menos, a compreensão e os interesses de uma comunidade. É registrar percursos sensíveis em uma cartografia útil, exatamente como encontramos nas narrativas do modo de fazer dessas mulheres que refazem espaços tradicionais para que caibam suas urgências humanas marcadas pelos seus corpos femininos. 
Uma cartografia sensível seria capaz de registrar histórias em um tempo e espaço já que a vida exige movimento, flexibilidade e é perecível. Essas iniciativas, consequentemente, também são. Os pontos, as linhas e os desenhos de um percurso nessa temporalidade criam camadas de existências, ausências e memórias. 

*trabalho realizado a partir do olhar sobre o projeto Mulheres em Círculo, desenvolvido pelo Coletivo Naiá (Catarina Maruaia, Lina Mintz e Renata Delgado), entre os anos de 2015 e 2020, constatando o percurso, as poéticas e o que me atravessa e inaugura novos caminhos investigativos.